“Não podemos nos dar ao luxo do imobilismo. Tudo é de urgência. O governo precisa agir rápido”, diz Rubens Menin, presidente da Abrainc (Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias) e presidente do conselho da MRV Engenharia.
O empresário e a entidade defendem que o governo libere ao menos metade do compulsório da poupança para o crédito imobiliário.
Com o aumento da taxa de juros, a caderneta de poupança, fonte de recursos para o SFH (Sistema Financeiro da Habitação) perdeu competitividade. Só em abril, os saques superaram os depósitos em R$ 5,8 bilhões.
“Há uma carência de recursos, é preciso abrir a válvula do compulsório da poupança. Se o governo não agir muito rápido, será fatal. Alguns setores sofrem mais do que outros”, afirma.
Das 17 empresas que atuavam no Minha Casa Minha Vida, apenas cinco continuam três de capital aberto.
“A prestação do imóvel não cabe no bolso do trabalhador.” O emprego na construção civil é o que mais cai, o que vai se acentuar, prevê.
Na faixa 1, em que os recursos vêm 100% do Tesouro, há atraso no desembolso. O setor pleiteia a regularidade dos pagamentos. “Mas sabe que para essa faixa é mais difícil em razão do ajuste fiscal.”
As faixas 2 e 3, dependem menos do Tesouro, pois 82,5% de seus recursos vêm do FGTS.
“Desde 2012, porém, o valor limite da moradia não é reajustado.” Para se enquadrar no programa, o valor do o imóvel tem de ser de no máximo R$ 190 mil, nas principais regiões metropolitanas.
Para justificar o pedido de maior liquidez para o setor, apesar dos tempos de aperto monetário, o empresário afirma que “alguns setores sofrem mais do que outros. A indústria da construção foi a que mais desempregou.” Foram fechados 18,2 mil postos em março, mais do que na indústria da transformação, segundo o Caged -nos últimos 12 meses, a perda foi de 259 mil empregos.
“Essa decisão é fatal. Com a carência de recursos, o mercado não vai deslanchar. O governo tem de agir muito rápido. É preciso liberar o compulsório sobre a poupança que os bancos depositam, determinado pelo Banco Central 20% sobre o saldo da caderneta.
“Traria um alívio. Não podemos mais machucar o setor”, frisa. “Com a queda dos recursos disponíveis na poupança, os bancos, além de diminuírem o percentual do valor financiado, mudaram também os critérios de concessão de crédito, endurecendo as regras que estavam em vigor.”
“Os distratos vão aumentar.” As condições mais duras dificultam muito o modelo de negócio e a vida do comprador, que precisa de mais renda, afirma. “O pior é que não preservam as vendas feitas em períodos anteriores. ”
O maior impacto causado nos atrasos de pagamentos (somente na faixa 1) foi principalmente nas empresas de menor porte, que acabaram atrasando pagamentos a fornecedores, mão de obra e, em alguns casos, paralisando empreendimentos, relata.
A decisão da Caixa de restringir novos financiamentos no Sistema Financeiro de Habitação, por causa da perda na poupança, foi mais um baque muito negativo no mercado. “Leva empresas a rever investimentos e lançamentos. A CEF é o maior agente no crédito imobiliário do Brasil, com cerca de 70% dos empréstimos. Como é recente, é difícil quantificar a futura queda na atividade.”
Não há dados atuais da Caixa e do Banco do Brasil sobre o Minha Casa Minha Vida no ano passado. “Neste ano, não foram efetivadas contratações na faixa 1 do programa. Nas faixas 2 e 3, a produção continua, mas sem reajuste desde 2012.” Foram 816 mil unidades em 2012 e 900 mil unidades contratadas em todas as faixas em 2013. Há indicação de queda em 2014, segundo a Abrainc.
Com o pé no acelerador, deveria estar o setor, diz. Além da importância para o PIB, para a geração de emprego, ele tem um papel social grande também, destaca Menin. A demanda é de 35 milhões de moradias em 20 anos, segundo consultorias. “Seriam mais de um milhão e meio por ano e estamos fazendo menos da metade.”
O auge foi em 2011, “mesmo assim, foi menos de um milhão, contando com Minha Casa Minha Vida, com faixa 1, e a iniciativa privada”.
As empresas estão reduzindo os lançamentos. Caíram de R$ 43 bilhões em 2012 para R$ 20,7 bilhões em 2014 nas companhias listadas na Bolsa. “Os estoques também diminuem. Vão durar de dois a quatro anos, nas moradias de médio e alto padrão. Mas não há estoque de imóvel popular. E é a base da pirâmide que mais precisa.”
“O crédito imobiliário é muito pequeno no país – 9% do PIB. Em países de mesmo perfil, é de 20% a 30%.”
Entre comprar o terreno e lançar o imóvel, o prazo médio na MRV é hoje de 26 meses. São 130 cidades, há as mais demoradas.
“Isso queima dinheiro, investimento. Demora muito para ter as licenças. Nos Estados Unidos, leva de três a seis meses. Quando se termina o imóvel aqui, há outra etapa burocrática longa.” Entre conseguir os documentos e assinar com o banco, pode demorar nove meses.
Curitiba é a melhor entre as maiores cidades, conta. “São seis meses para lançar, se estiver tudo redondo. Há cidades menores em que se leva, da aquisição da área ao lançamento, 90 dias, como em Ribeirão Preto e Bauru.”