Monitor Mercantil
Esta coluna está sempre de olho no tema da bolha imobiliária. Embora os especialistas neguem similaridade com o caso norte-americano, a valorização dos imóveis nas capitais e cidades médias foi exorbitante e merece atenção, pois a valorização esfumaçou. O bairro do Leblon, na Zona Sul carioca, é citado como o de metro quadrado mais caro do país e, a todo momento, as colunas sociais indicam sofisticados restaurantes que se mudaram ou até fecharam, por não poder pagar os aluguéis, muito menos comprar os espaços. Os corretores de imóveis dizem que as vendas despencaram. Além disso, gigantes do mercado imobiliário, em crise, foram obrigadas a abrir mão de terrenos, que constituiriam futuros empreendimentos.
Marcio Fenelon, da Consultoria Empiricus, acaba de realizar inteligente análise, na qual, de início cita as similaridades entre os casos norte-americano e brasileiro: valorização, financiamento, prazo, total financiado e custo do crédito. Com dados do Banco Central, revela que a valorização, no Brasil, foi de 550% entre 2001 e 2014, e o financiamento imobiliário passou de 1,6% do Produto Interno Bruto (PIB), em 2007, para 9,3% do PIB em 2014. Em 2007, o total financiado era de apenas R$ 18 bilhões e chegou a R$ 109 bilhões em 2013. O prazo subiu de 15 para 35 anos, e o total das operações a obter crédito ascendeu de 50% para 80%. E o custo também caiu, segundo ele, de TR mais 12% para TR mais 8,5% – menos ainda para o Minha Casa Minha Vida.
Sempre de forma clara, Fenelon mostra que, nos Estados Unidos, o crédito imobiliário chegou a representar 90% do PIB e, no Brasil, em torno de 9%. Lá, o crédito comprometia 36% da renda e aqui, 17%. No Brasil, há disciplina na concessão de crédito, em geral se exigindo como renda três vezes a prestação. Lá, havia crédito para quem não tinha renda, emprego e ativos, o chamado grupo “Ninja” – No income, no job, no actives. Nos Estados Unidos, no período da bolha, a renda se manteve estável, enquanto, no Brasil, subiu bastante para a chamada “nova classe média”. Nos EUA, a inadimplência era alta e, no Brasil, está em 2%, só sendo maior para o Minha Casa.
Portanto, o especialista nega a bolha, mas o assunto exige cautela, pois os preços alcançados por certos imóveis chegaram a níveis fantásticos, e as grandes construtoras enxugaram suas equipes, o que denota alguma preocupação.
As agências de risco
No momento em que as agências de classificação de risco ameaçam passar o Brasil de grau de investimento para grau especulativo, Adhemar Mineiro, na publicação do Sindicato e do Conselho dos economistas fluminenses (Sindecon e Corecon), revela que tais companhias querem ser, ao mesmo tempo, jogadores e juízes. Explica que ganham dinheiro prestando serviços a empresas e países e também se atribuem a tarefa de lhes atribuir notas, que podem desmerecer uma nação perante o mundo.
Lembra que Moody’s e Standard & Poor’s estão na bolsa de Nova York, ou seja, precisam de lucros crescentes para seu próprio negócio, além de julgar os outros. Já a Fitch pertence à francesa Fimalac e Hearst Corporation, a empresa fundada por William Randolph Hearst, o bilionário egocêntrico retratado por Orson Welles no emblemático filme Cidadão Kane.
Mineiro transcreve acusação feita pela comissão do Congresso norte-americano, na crise mundial de 2008: “Nós concluímos que os erros das agências de classificação de risco foram engrenagens essenciais na roda da destruição financeira”. Em 2009, os maiores países do mundo, reunidos no G-20, propuserem “estender a supervisão regulatória e registro às agências classificadoras de risco, a fim de assegurar que cumpram o Código Internacional de Boas Práticas, particularmente quanto à prevenção de conflitos de interesses inaceitáveis”.
Bolsa juros
Na mesma fonte, o Jornal dos Economistas, Rodrigo Ávila, da Auditoria Cidadã da Dívida, revela dados que não saem nos grandes jornais. Em 2013, o país gastou R$ 718 bilhões com juros e amortização das dívidas interna e externa. Isso corresponde a 29,3 vezes os R$ 24,5 bilhões aplicados no Bolsa Família. Ávila não sugere não pagamento, mas exame dos débitos e o fim da política de superávits primários, que considera mais importante pagar a dívida ou rolá-la, do que fazer investimentos sociais e econômicos.
Com dados, nega que a dívida esteja em mãos do povo. Afirma que o Tesouro Direto – no qual cidadãos simples compram esses títulos – corresponde a 0,36% do total, ou seja, quase nada. Na verdade, 47% estão com bancos nacionais e estrangeiros, 17,7%, com fundos de investimento, e 11,3%, com aplicadores estrangeiros. Os fundos de pensão têm apenas 13% da dívida, rebatendo a tese de que são os principais beneficiários.
Conclui: “ É absurdo que o país leve em consideração avaliações feitas por agências de riscos, que se importam, na realidade, em encher os bolsos de banqueiros com dinheiro do povo, por meio de uma questionável dívida”.
Nuclear
O Brasil, que já é responsável parcialmente por enriquecer urânio para suas duas usinas atômicas, no ano que vem usará urânio 100% enriquecido aqui. São poucos os países que chegaram a esse nível. Seria bom que a construção de Angra III fosse agilizada, para ajudar na crise de energia.
A visão da Anfavea
A entidade que reúne as montadoras de veículos fez um estudo sobre a frota em 2034. Diz que os atuais 39,7milhões de carros serão 95,2 milhões e que o PIB passará de R$ 2,24 trilhões para R$ 4,03 trilhões. A Anfavea levou em conta que a população subirá apenas 0,5% ao ano, passando dos atuais 201 milhões para 226 milhões de pessoas.
O interessante é que a entidade previu alta média de 3% no PIB, por ano. Isso é exatamente dez vezes a previsão de FMI e OCDE para este tumultuado ano de 2014, no Brasil.
Sem exportar
O ex-ministro e ex-deputado Delfim Netto culpa a política cambial pela destruição da indústria. Diz que, em vez de usar o câmbio para impulsionar exportações, os governos o utilizaram para conter a inflação. Com isso, o país perdeu expressão no mundo.
Todas as federações estaduais, reunidas na Confederação Nacional da Indústria (CNI), mostraram o mesmo quadro, na recente Carta da Indústria, mas, com inflação de 6,75% e uma oposição aguerrida, dificilmente a presidente Dilma irá liberalizar a política cambial, a curto ou médio prazo. E, a longo prazo, como dizia Keynes, estaremos todos mortos.
Rápidas
O Sistema Firjan, através do Instituto Euvaldo Lodi e iniciativa do Conselho de Jovens Empresários (CJE), realiza nesta quarta-feira o VIII Seminário de Empreendedorismo, com o tema Empreendedorismo Inovador *** Começa nesta quarta-feira, em São Paulo, o simpósio América Acessível: Informação e Comunicação para Todos *** O governador Luiz Fernando Pezão sancionou lei que torna a Associação Brasileira de Recursos Humanos do Rio (ABRH-RJ) utilidade pública do Estado. O título foi concedido pela posição de referência na área de gestão de pessoas, sempre motivando e promovendo ações que estimulam a inclusão social no cenário das relações do trabalho *** A Câmara Brasileira do Livro (CBL) realizará a cerimônia de entrega do Prêmio Jabuti no próximo dia 18, em São Paulo *** Nesta quarta-feira, a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe-USP) lança página na internet sobre salários, com coordenação de Hélio Zylberstajn *** O presidente da TAP, Fernando Pinto, faz palestra nesta quarta-feira, em Porto Alegre. Pinto preside a aérea há 14 anos *** A terça-feira foi de bolsa em queda e dólar em alta