Uol
Centenas de investidores britânicos que perderam milhões de libras em um suposto esquema de compra de terras no Brasil devem recorrer à Justiça inglesa para recuperar o dinheiro.
Britânicos foram atraídos por uma empresa com sede em Londres pela perspectiva de que as terras se valorizariam com a realização da Copa do Mundo e das Olimpíadas, em 2016. Os negócios foram fechados nos últimos três anos.
Em centenas de casos, investidores pagaram 10 mil libras (R$ 38 mil) por lotes perto da cidade de Fortaleza, uma das sedes da Copa.
Mas, no ano passado, a empresa Pantheon Realty Consultants, responsável pela venda das áreas, foi liquidada por autoridades britânicas.
Muitos ainda não receberam as escrituras das propriedades. E, nos casos em que o documento foi emitido, os lotes têm o valor equivalente a menos de R$ 200.
‘Pareciam confiáveis’
Aqueles que fizeram um investimento inicial recebiam telefonemas constantes de vendedores para que adquirissem novas terras.
As vítimas incluem uma viúva com câncer que perdeu mais de 70 mil libras e um jovem que perdeu 26 mil libras.
Alguns investidores perderam todo o dinheiro que tinham e foram incentivados a fechar os negócios diante das baixas taxas de rendimento das poupanças no Reino Unido.
Eles pensavam estar sendo cuidadosos.
A Pantheon Realty Consultants era membro de uma associação britânica cujo objetivo é educar e informar as pessoas em como comprar terras em outros países de maneira segura, e tinha sede no prédio conhecido como Gherkin, um dos símbolos do distrito financeiro de Londres.
Uma das vítimas do suposto esquema, o consultor de energia Mike Langley, disse que o endereço dava a impressão de que eles eram uma “empresa confiável”.
“Se você olhar o site deles na internet… É muito bonito. É muito profissional. E, no início, essas pessoas pareciam profissionais”, disse ele.
“Acho que foi em maio de 2013, e um outro senhor chegou a mim de maneira muito agressiva”.
“Ele disse: ‘Você tem que comprar essas terras agora. Não tem mais lotes, nós vendemos tudo. Só sobraram alguns. Você tem que comprar agora'”.
Langley disse ter recebido ligações com pessoas dizendo que poderia hipotecar novamente sua casa.
“Tudo ficou normal de novo e eu estava buscando a escritura e documentos. E, de repente, a liquidação e eles foram fechados. Eles saíram impunes”, disse ele.
“Quando eu descobri, fiquei doente. Demorei um mês para contar à minha esposa o que tinha acontecido, tomar coragem para dizer a ela”.
Nenhuma prisão
Vítimas denunciaram o caso à polícia, mas nenhuma prisão foi feita.
A polícia de Londres e a Polícia Metropolitana disseram à BBC que não estavam investigando a questão.
Langley pagou 16 mil libras – todo o dinheiro que tinha poupado – e nunca recebeu sua escritura.
E, quando uma vítima recebeu o documento, as coordenadas revelaram que, em vez de um lote à beira da praia, o terreno era um matagal de 250 metros quadrados a mais de 2 km da praia – e a duas horas e meia de Fortaleza.
Os nomes que eram apresentados como diretores da Pantheon eram refugiados afegãos e, segundo fontes oficiais, desconheciam o que ocorria na empresa.
A controladora da Pantheon, o PR Group, tem sede em São Vicente e Granadinas, o que torna difícil a identificação dos reais diretores por autoridades britânicas.
Outra empresa, a Green Planet Investments Ltd, também usou o edifício Gherkin para dar um ar de credibilidade. A empresa também foi fechada no final do ano passado.
Nos dois casos, cerca de 600 investidores foram envolvidos, em transações que chegaram a 19 milhões de libras (cerca de R$ 72 milhões).
As vítimas recorreram a um advogado especializado na recuperação de investimentos em esquemas como este. No entanto, Chris Corney acredita que as chances são pequenas neste caso.
“Se você conseguir agir cedo… chegar ao dinheiro enquanto ele ainda está nas contas, talvez você tenha uma chance de recuperar alguma coisa. Não é absolutamente impossível, mesmo nos casos mais extremos”, disse ele.