Estadão
Analistas têm uma certeza: será preciso alongar as aplicações. Para cautelosos, fundos imobiliários são opção. Para quem gosta de risco, Bolsa é alternativa
O cenário de juro baixo e inflação alta vai desafiar o investidor nos próximos meses. O rendimento das aplicações mais conservadoras deverá ser corroído pelo aumento dos preços. A saída será alongar o prazo dos investimentos e aplicar em produtos que estejam indexados a indicadores de preços ou fazer apostas em opções mais arriscadas.
Essa realidade desafiadora está respaldada no cenário macroeconômico incomum para padrões brasileiros. A taxa básica de juros (Selic) está no nível mais baixo da história, enquanto a inflação tem tendência de alta. Na semana passada, por exemplo, o Comitê de Política Monetária (Copom) manteve os juros em 7,25% ao ano. Ao mesmo tempo, o governo trabalha para conter a alta dos preços, pedindo para governos estaduais e prefeituras segurarem os reajustes das tarifas dos transportes públicos.
“O investidor tem agora de olhar as aplicações com prazos mais longos. A primeira grande mensagem é essa. A saída é fugir dos investimentos de curtíssimo prazo”, afirmou Mário Amigo, professor da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi).
“Mesmo no caso do Tesouro, uma coisa importante é começar a separar os recursos que possam ser alongados um pouco. Tentar estender a aplicação para dois anos para ter uma incidência de Imposto de Renda de 15%”, explicou Bolivar Godinho, professor da Fundação Instituto de Administração (FIA).
O que favorece o investimento no Tesouro Direto é a facilidade para aplicar. O investidor tem de abrir uma conta numa corretora autorizada e pode, por exemplo, realizar as operações virtualmente. Além disso, os aportes iniciais podem ser feitos com R$ 30.
Num cenário de um pouco mais risco – ainda com prazo alongado -, a opção para quem busca ganho acima da inflação são os fundos multimercados ou os imobiliários.
Até quinta-feira, o Índice de Fundos de Investimentos Imobiliários (IFIX) da BM&FBovespa tinha valorização de 1,02% no ano – em 2012, a alta foi de 35,01%. “Esse tipo de investimento tem um perfil de risco diferente do Tesouro”, disse Amigo.
No caso dos investimentos em fundos imobiliários, é preciso levar em conta o risco do mercado de imóveis. “Existem os fundos imobiliários de renda que têm o objetivo de pagar prêmio acima da inflação. É um instrumento típico para aquele investidor que procura ganho acima da variação dos preços”, disse o professor da Fipecafi.
Nesse cenário de pouco espaço para ganho real, as indicações de investimentos também se voltam para as ações – ou investindo diretamente na Bolsa ou num fundo. “As ações devem ser um bom caminho. Elas precisam ser encaradas como poupança e não como especulação. A partir do momento em que for encarada dessa nova maneira, começa a fazer mais sentido até um aumento de volume (de negócios)”, disse Jason Vieira, economista do site Moneyou.
O mercado de ações, porém, deve ser testado aos poucos, recomendam os especialistas. “Existe um processo de aprendizado. O investidor pode começar com 5% no mercado de ações para sentir as oscilações e depois ir aumentando o montante investido”, disse o professor Bolivar Godinho, da FIA. Até sexta-feira, o Índice da Bolsa de Valores de São Paulo acumulava valorização de 1,65%.
Nova poupança perde do IPCA
O aumento da inflação no fim do ano passado fez com que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) superasse o rendimento da nova poupança entre setembro e dezembro. Vale lembrar que a ‘nova’ poupança tem o rendimento atrelado a 70% da taxa básica de juros (Selic). Em dezembro, por exemplo, o IPCA de 0,79% ficou bem acima do desempenho na nova poupança (0,413%).
Já a poupança antiga ainda mantém rendimento de 0,5% ao mês mais a Taxa Referencial (TR). O rendimento inferior da poupança na comparação com o índice oficial de inflação do País não tirou a atratividade da aplicação. Pelo contrário.
A poupança ainda é o produto com mais captação no mercado de investimento brasileiro. No ano passado, a captação total da poupança foi de R$ 49,7 bilhões, de acordo com dados do Banco Central (BC). O valor apurado superou o recorde anterior, de R$ 38,7 bilhões em 2010, e ficou 250% acima do resultado de 2011 (R$ 14,2 bilhões).