Pela nona vez consecutiva, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central aumentou a Selic, que passou de 10,75% para 11,75% ao ano. A alta divulgada nesta quarta-feira (16/03), de 1,0 ponto percentual, foi a de menor intensidade desde outubro de 2021. Desde março do ano passado, a Selic já aumentou 9,75 pontos percentuais, ao passar de 2,0% no início de março de 2021 para 11,75% em março de 2022. Com isso, a taxa está no seu maior patamar dos últimos cinco anos.
A previsão, no entanto, é de novas altas. De acordo com a Pesquisa Focus, realizada semanalmente pelo Banco Central, os juros encerrarão 2022 em 12,75%, mas há expectativas que indicam juros acima de 13%.
“O aumento da Selic acontece diante das expectativas de uma inflação maior em 2022 e das incertezas causadas pela guerra Rússia x Ucrânia. Neste contexto, é preciso destacar que um dos impactos desse conflito é o incremento nos preços das comodities, o que tem contribuído para reduzir as perspectivas do dinamismo da atividade econômica global e aumentar as estimativas de aumento nos preços”, ressalta a economista da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Ieda Vasconcelos.
Particularmente no Brasil, a expectativa para a inflação não era favorável desde o início de 2022. E piorou os últimos dias. A pesquisa Focus, realizada semanalmente pelo Banco Central, em 11 de março apontou que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que é calculado e divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, e é o indicador utilizado para acompanhar as metas de inflação, finalizará o ano em 6,45%. Caso esse número seja confirmado este será o segundo ano consecutivo em que o Brasil não conseguirá cumprir a sua meta para inflação.
Vale lembrar que a meta inflacionária de 2022 é 3,5% e ela será considerada totalmente cumprida se variar de 2,0% a 5%. Em 2021 a meta foi de 3,75%, e poderia variar 1,5 ponto percental para cima ou para baixo, mas o IPCA acumulou elevação de 10,06%, ou seja, muito acima do teto da meta. Em fevereiro/22 o referido indicador registrou alta de 1,01%, o que correspondeu a sua maior variação para o mês desde 2015, quando aumentou 1,22%. Com isso, no primeiro bimestre do ano, o IPCA aumentou 1,56%. Já nos últimos 12 meses encerrados em fevereiro a variação foi de 10,54%.
É claro que a guerra Rússia x Ucrânia abalou todas as certezas da economia mundial. O conflito acontece num momento em que a economia global estava se recuperando dos estragos provocados pela pandemia da Covid-19. E o avanço que aconteceu até aqui pode ser dissipado. A guerra, além de estar destruindo a Ucrânia, gera apreensão sobre a oferta de commodities como o petróleo, o trigo e o milho. A consequência imediata é o aumento dos preços. Mas, se por um lado tem-se a preocupação justificada pelo incremento nestes preços também é preciso considerar outras questões que jogam contra a inflação: o recuo do dólar, a variação menor no preço da energia elétrica, a renda das famílias, já bastante fragilizada e o desemprego elevado são algumas delas. Também é preciso considerar a volatilidade do mercado. O petróleo que chegou há poucos dias a US$130,00 o barril, voltou ao patamar inferior a US$100,00 diante das expectativas de negociação entre Rússia e Ucrânia e também com a preocupação com o
aumento de casos de Covid na China.
Sempre é bom ressaltar que o aumento dos juros reduz o dinamismo da atividade econômica, podendo comprometer a geração de renda e empregado na economia. Os juros elevados, se por um lado contribuem para ajudar o Brasil na captação de investimentos externos, que buscam oportunidades em mercados emergentes, por outro lado desestimula os investimentos produtivos.
O ano 2022 será desafiador para a economia nacional. Se isso já era uma certeza no início do mês de janeiro, ela foi ainda mais confirmada diante da perspectiva de menor crescimento mundial, em função da guerra Rússia x Ucrânia. Os juros devem permanecer em alta durante este ano. Em função do atual cenário, o Banco Central poderá postergar o relaxamento da sua política monetária, ou seja, pode demorar a interromper o ciclo de aumento da Selic.
A guerra acrescenta pressões inflacionárias na economia mundial e o aumento de casos de Covid na China eleva as incertezas em relação ao futuro. Neste contexto, os segmentos produtivos, como a Construção Civil, ficam prejudicados com taxa de juros elevadas, pois os investimentos migram para o mercado financeiro. Além disso, o menor ritmo de atividade econômica causado por juros altos significa menos emprego, menos
renda e mais dificuldade para as famílias adquirirem a casa própria.
Outra questão que preocupa o setor é o preço de commodities como minério de ferro, cobre, alumínio, etc. A Construção, desde julho de 2020, vivencia uma forte pressão em seus custos, em função da elevação nos preços dos seus insumos. Assim, a alta mais forte no preço dessas commodities poderá contribuir para aumentar ainda mais a pressão sobre o preço dos insumos. Além disso, a possibilidade de incremento nos valores de frete, em função da alta dos preços dos combustíveis, também poderá provocar aumento dos custos do setor. Caso esse cenário permaneça, as expectativas de crescimento para o setor podem ser revistas.
Izabel Mendonça
Assessoria de Comunicação
FONTE: Cbic