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O pessimismo visto nos últimos meses entre investidores e analistas quanto ao desempenho do mercado imobiliário foi atestado com a divulgação dos dados operacionais das principais construtoras e incorporadoras do país, traçando um cenário de forte queda de vendas e lançamentos e, consequentemente, menor receita no segundo trimestre.
Das seis companhias que representam o setor no Ibovespa, as cinco que apresentaram números preliminares até esta quarta-feira registraram queda nas vendas contratadas, enquanto apenas uma apurou alta nos lançamentos na comparação com igual trimestre em 2011.
Se considerados os dados divulgados por PDG Realty, Cyrela Brazil Realty, Gafisa, Rossi Residencial e MRV Engenharia, as vendas entre abril e junho caíram entre 3% e 45% ano a ano. Os lançamentos, por sua vez, foram ainda menores, com retração de 33,3% a 80,3%, refletindo a tendência vista desde o início do ano, quando as empresas passaram a priorizar a venda de estoques e a normalização das operações antes de ofertarem novas unidades, apesar do ambiente econômico favorável, com juros baixos e disponibilidade de crédito.
A exceção foi a MRV, que contrariou a tendência ao acelerar o ritmo e lançar 42% mais imóveis no período em relação a um ano antes. Com foco no segmento econômico, a MRV foi favorecida no trimestre pelo “Feirão da Casa Própria”, realizado pela Caixa Econômica Federal, cuja edição deste ano foi beneficiada pelas rodadas de cortes nas taxas de juros.
O evento, que reúne grande volume de imóveis voltados principalmente à população de baixa renda, é visto como um dos mais importantes para empresas focadas neste nicho. “Com lançamentos e vendas reduzidos, haverá impacto na receita no curto prazo”, disse o analista René Brandt, da Fator Corretora. “O segundo trimestre para o setor como um todo não vem bom”, acrescentou, citando margens e rentabilidade afetadas por atraso de obras e maiores custos, entre outros fatores.
Maior do setor, a PDG surpreendeu o mercado ao reduzir pela segunda vez a previsão de lançamentos para este ano, desta vez quase pela metade, citando a atual conjuntura macroeconômica e seus efeitos no mercado imobiliário. Após queda de cerca de 80% nos lançamentos do segundo trimestre, a PDG prevê agora lançar no fechado de 2012 de R$ 4 bilhões a R$ 5 bilhões, contra projeção anterior de R$ 8 bilhões a R$ 9 bilhões.
A revisão aumentou as incertezas sobre a capacidade da companhia de reverter os problemas de execução enfrentados no ano passado e que levaram a PDG a priorizar vendas e reestruturação interna, segundo profissionais que acompanham o setor.
“Embora consideremos tal redução preventiva como saudável, e de certa forma inevitável, a magnitude definitivamente nos surpreendeu negativamente”, afirmou a equipe do Barclays, em relatório, ponderando que a revisão pode ser vista como um alívio, ao passo que “aumenta de forma significativa a capacidade de geração de caixa da empresa”.
Também com viés cauteloso e no aguardo do balanço consolidado para “ter uma visão melhor da atual situação da companhia”, o analista Guilherme Rocha, do Credit Suisse, ressaltou que “os números decepcionantes não são privilégio apenas da PDG”. “O setor imobiliário está claramente enfrentando um período difícil, sinalizado novamente pelos recentes resultados operacionais divulgados”, disse Rocha.
Única representante do setor a não divulgar prévia até esta quarta-feira, a Brookfield Incorporações também não tem uma perspectiva positiva a seu favor. A companhia teve, inclusive, o rating cortado recentemente pela agência de classificação de risco Fitch, que considerou projetos mais caros e revisão de custos.
Nesse sentido, Brandt, da Fator Corretora, lembrou que a empresa apresentará nova revisão orçamentária, após realizar a primeira etapa entre janeiro e março. “Isso resulta em rentabilidade baixa por um período longo, expectativa ruim de fluxo de caixa e maior risco de liquidez”, disse.
Ainda segundo ele, outras companhias do setor podem ter de arcar com revisões orçamentárias no balanço dos três meses até junho, considerando o contínuo cenário de pressão de custos.