O crescimento intenso da construção civil no País, tal como ocorreu em 2010, pode estar comprometido neste ano. A maré de obras que pipocaram nos últimos meses agregou tanta mão de obra que o setor já não tem o fôlego de antigamente e amarga, apenas no Grande ABC, deficit de cerca de 1.000 profissionais. A tese é da diretora adjunta do SindusCon-SP (Sindicato da Indústria da Construção Civil) regional, de Santo André, Rosana Carnevalli.
Se o crescimento do setor previsto para este ano se confirmar (de 5%), o apagão irá somar mais 2.167 postos, totalizando deficit de 3.167 vagas até dezembro, como pedreiros e pintores. “Embora muitos desses profissionais não tenham formação técnica, adquiriram experiência com a prática e o tempo, e a procura por eles foi enorme em 2010”, diz Rosana. Ela conta que a escassez começou a crescer no segundo semestre. O setor deslanchou 11,6% em 2010, sobre 2009.
Rosana estima que, até então, o mercado conseguia absorver a demanda com os profissionais de que dispunha.
O representante do Sindicato Intermunicipal dos Trabalhadores da Indústria da Construção Civil e Mobiliária, Edson Luiz Bernardes, ressalta que em cidades como São Caetano o número de autoconstruções tem sido impulsionado, o que contribui para dificultar a vida dos consumidores, que levam cerca de três meses para localizar uma equipe de confiança para erguer um empreendimento.
O apagão não para por aí. Achar um pintor para finalizar uma casa não é tarefa fácil, segundo Bernardes. “O que era muito comum antes, como trabalhadores para fazer fundação, parte elétrica e pintura, hoje você não encontra mais.”
O pintor Daniel Faustino dos Santos é exemplo de como a baixa oferta refletiu em maiores ganhos. De quatro anos para cá, ele viu a renda pular de R$ 600 para até R$ 4.000 mensais – incremento de 566,6%. O profissional diz preferir trabalhar em São Caetano. “Lá o pessoal chora menos”, brinca.
Quem sai perdendo é quem tem o sonho da casa própria. O tempo inicial de três meses para se localizar um pedreiro para erguer uma casa já está atingindo até um semestre. “Mas isso só com reboco, sem acabamentos”, diz Bernardes.
Tempo que o analista de TI Alexandre de Souza Perez viu superar com folga: seis meses é o que já gastou tentando localizar um profissional que toque seu projeto, de 170 m², em Mauá. “É um problema porque a Caixa (Econômica Federal) cria burocracias para conceder empréstimos, feito a cada etapa das obras. E, normalmente, empresas maiores não pegam projetos de até R$ 150 mil.”
Para dificultar a vida dele, as opções são de empreiteiros menores, que não contam com credibilidade suficiente para confiar os R$ 130 mil que planejou para sua casa. Recentemente, ele conseguiu negociar com um mestre de obras, mas, terá de esperar que o profissional conclua outro empreendimento. Com isso, deve levar mais oito meses, no mínimo, até que o imóvel fique pronto.
Fonte: Clip Imobiliário