As discussões que se arrastam nos últimos meses em Brasília sobre flexibilizar ainda mais o uso do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para o trabalhador são consideradas negativas pelo setor imobiliário. Praticamente metade das vendas de novas unidades na capital – em 2019 o mercado vendeu um total de 45 mil unidades – costuma ser de habitações de interesse social, dentro do programa Casa Verde Amarela, antigo Minha Casa Minha Vida.
Por isso, retirar recursos do FGTS vai diminuir também o dinheiro usado pelo governo para financiar as construções de imóveis destinados à população de baixa renda.
“A manutenção do FGTS para habitação de interesse social, saneamento e mobilidade é fundamental”, afirma Celso Petrucci, economista-chefe do Secovi (Sindicato da Habitação). Segundo ele, que trabalha há muito tempo na área, está muito difícil vislumbrar outros recursos para financiar esse tipo de imóvel. “A demanda é muito concentrada na renda de até três salários mínimos”, afirma Petrucci.
Segundo o especialista, a formação de domicílios permanentes no Brasil continua muito grande. E parte desse processo, entre 450 mil e 500 mil unidades por ano, é construída com recursos do FGTS.
Cenário Econômico
O mercado imobiliário e os loteadores, por meio de projetos de desenvolvimento urbano, também ajudam a atender a demanda, aponta o economista do Secovi. Na avaliação dele, além da manutenção dos recursos do fundo de garantia, o cenário macroeconômico também não pode se deteriorar. “Mantido o ajuste fiscal e as regras fundamentais para o funcionamento do País, fico com a impressão, apesar de uma certa preocupação, que teremos uns anos muito bons para o mercado imobiliário no País”, afirma Petrucci.
Bolsa de Valores
Na mesma linha de raciocínio, Reinaldo Le Grazie, sócio da Panamby Capital, concorda que a manutenção da estabilidade do cenário macroeconômico, sem o País perder mão do controle da dívida, é fundamental para o mercado imobiliário. “O déficit habitacional sustenta a demanda por um bom tempo. E como não falta crédito e todos os riscos do setor são mapeáveis, o cenário é positivo”, diz Le Grazie.
Tanto que a própria Bolsa de Valores de São Paulo, a B3, nos últimos meses, mesmo durante a pandemia, tem registrado várias IPOs de empresas do setor. A última vez que uma companhia do segmento havia aberto o capital antes do início deste ano foi em 2009, há mais de dez anos. “Até agora, tivemos seis IPOs este ano e a tendência é que ocorram mais”, diz Guilherme Ávila, head do setor imobiliário no Investment Banking da XP Inc.
Fonte: Estado de São Paulo
Izabel Mendonça
Assessoria de Comunicação CRECI/ES