CRECI-RJ / Valor Econômico
No mercado imobiliário, há quem diga que já tirou do calendário as semanas da Copa do Mundo. Apesar disso, especialistas em crédito não veem sinais de que o financiamento habitacional vá minguar em 2014. Para especialistas em crédito e imóveis, vários fatores viabilizam o aumento previsto de dois dígitos. Um deles é o ciclo do setor. Nos próximos meses, vão precisar de empréstimo as pessoas que compraram imóveis na planta há dois anos ou mais. Ou seja, mesmo que não haja um aumento relevante em novos projetos e lançamentos, como prevê João da Rocha Lima Junior, professor titular de real estate da Poli/USP, o crédito não tende a ser afetado.
As projeções de bancos e também da Abecip, associação que congrega instituições de poupança e crédito imobiliário, mostram que o ano deve ser promissor, com crescimento de 15%. No ano passado, a expansão do crédito com recursos da poupança foi de 32%, segundo os dados da Abecip.
O resultado do mês de janeiro sugere que a expectativa tem condições de ser cumprida. O volume de empréstimos para aquisição e construção de imóveis cresceu 22% em relação ao mesmo período do ano passado.
No caso do Banco do Brasil, a expectativa para 2014 é aumentar a concessão em, aproximadamente, R$ 12 bilhões. Foi esse montante que a carteira do BB cresceu em 2013, quando somou R$ 24,1 bilhões. “A maior parte desse crescimento virá da pessoa física, que representa cerca de 75% dessa carteira”, afirma Hamilton Rodrigues da Silva, gerente geral de crédito imobiliário do Banco do Brasil.
A Caixa também projeta mais um ano de expansão. Segundo Teotonio Rezende, diretor de habitação da estatal, a meta é emprestar R$ 154 bilhões em 2014, 14% acima de 2013. “Temos estipulado metas ousadas e superado todas”, diz Rezende. No início de 2013, a meta da Caixa era encerrar o ano com R$ 126 bilhões emprestados. Meses depois, a instituição aumentou a meta para R$ 130,2 bilhões. Encerrou o período com R$ 134,9 bilhões emprestados.
Um atrativo para o cliente tomar crédito ao longo do ano é a possibilidade de as instituições manterem os juros baixos, apesar da alta da Selic e dos sinais de encarecimento das linhas. No Itaú Unibanco, por exemplo, a taxa média cobrada subiu 0,16 ponto percentual de dezembro para janeiro, chegando a 10,76% ao ano. “A taxa praticada pelos bancos privados e públicos que operam crédito imobiliário com os recursos da poupança continua baixa”, afirma Octavio de Lazari Junior, presidente da Abecip.
Na Caixa e no Banco do Brasil, não há intenção de aumentos. Segundo Lazari, da Abecip, e Rezende, da Caixa, essa estabilidade faz sentido porque o custo do dinheiro emprestado está atrelado, principalmente, ao rendimento da poupança. Ou seja, a curva ascendente da taxa básica – que saiu de 7,25% ao ano em abril de 2013 para 10,5% em janeiro – não afeta diretamente o custo dos recursos emprestados a quem compra imóveis.
Se por um lado a curva da Selic ainda não pesou no bolso de quem financia a casa própria, por outro significa um obstáculo para o financiamento a partir de instrumentos como os Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs), na avaliação de Rezende. “Se a curva da Selic estivesse em queda, a securitização [ou seja, o financiamento via CRIs] teria deslanchado”, afirma Rezende.