A participação dos governos no financiamento imobiliário deve ser analisada “mais a fundo” pelos países para evitar consequências indesejadas e afastar o risco de futuras bolhas no setor, diz um documento divulgado nesta quarta-feira pelo FMI (Fundo Monetário Internacional).
Segundo um capítulo do Global Financial Stability Report (‘Relatório sobre a Estabilidade Financeira Global’, em tradução livre) antecipado pelo FMI, análises empíricas demonstram “o impacto considerável que a participação do governo no período anterior à recente crise mundial teve na estabilidade financeira”. O relatório completo será lançado na próxima semana, durante a reunião de primavera do FMI e do Banco Mundial, em Washington.
O estudo analisou sistemas de financiamento imobiliário em países emergentes e avançados e afirma que há uma correlação próxima entre crescimento rápido de crédito hipotecário e altas bruscas nos preços dos imóveis.
Segundo o FMI, a participação dos governos “exacerbou as flutuações dos preços dos imóveis e amplificou o crescimento do crédito hipotecário no período que antecedeu a crise recente”, particularmente em alguns países avançados.
“Na média, países com maior envolvimento do governo também vivenciaram declínios mais profundos nos preços imobiliários” diz o texto.
O FMI diz ainda que as autoridades devem focar sua atenção na saúde das atividades de origem de hipotecas, incentivando o fortalecimento da gestão de risco, melhores condições de origem de empréstimos e uma supervisão eficaz.
De acordo com o relatório, países emergentes que buscam estabelecer novos sistemas de financiamento imobiliário devem focar sua atenção no estabelecimento de regulação sólida, supervisão eficaz e maior transparência. “Agências de qualificação de crédito que ajudam a informar aos clientes sobre as características dos riscos dos produtos hipotecários também cumprem uma função importante”, diz o texto.
Estados Unidos
O documento traz ainda recomendações específicas para o sistema de financiamento imobiliários dos Estados Unidos – foi no setor imobiliário americano que se originou a crise mundial de 2008.
O FMI diz que uma reforma no setor proposta recentemente pelo governo americano deve “preencher alguns vazios nos marcos de regulação, supervisão e proteção do consumidor”.
O relatório afirma que as reformas, entre elas uma melhor definição e mais transparência a respeito da participação do governo no mercado imobiliário, teriam um “importante efeito positivo” no sistema financeiro dos Estados Unidos e também um impacto sobre a estabilidade financeira mundial.
Em outro capítulo antecipado nesta quarta-feira, o FMI afirma que os países devem fazer mais para desenvolver técnicas para medir e mitigar riscos de liquidez sistêmicos – que estiveram no centro da recente crise econômica mundial, quando bancos centrais foram obrigados a injetar bilhões de dólares para resgatar instituições financeiras.
“Uma prioridade deve ser criar mecanismos de avaliação sobre a maneira como as decisões de gestão da liquidez de uma instituição poderiam prejudicar o resto do sistema financeiro”, diz o texto. “Assim, essas instituições financeiras poderiam assumir uma maior parte da carga que geram para os bancos centrais e governos.”
Entre as medidas sugeridas pelo documento está a adoção de impostos ou taxas. “Mas uma ferramenta desse tipo pressupões que as autoridades responsáveis pelas políticas contem com uma metodologia sólida para medir o risco de liquidez sistêmico e a contribuição de cada instituição a esse risco. Um problema observado até agora tem sido a carência de análises sobre como medir o risco de liquidez sistêmico e o grau em que cada instituição contribui a esse risco”, afirma.
O documento sugere ferramentas para não apenas medir esse grau, mas também usar essa informação para determinar indiretamente o preço da assistência de liquidez que uma instituição receberá do banco central.
“Ao determinar o preço adequado dessa assistência se ajudaria a reduzir a magnitude do apoio que um banco central deveria emprestar em um período de tensão e garantir que os déficits de liquidez sistêmicos não se convertam em problemas de solvência de grande escala e que não prejudiquem a intermediação financeira e a economia real”, diz o texto.
Fonte: G1