Diário da Manhã/GO
Exigência de mercado faz com que o corretor de imóveis procure meios para qualificação. Esse é o novo perfil dos profissionais do campo imobiliário
Antes da Lei Federal n.°6.530/78, que regulariza a profissão dos corretores de imóveis, qualquer pessoa podia exercer essa ocupação, bastando apenas que lhe fosse confiado um cliente que tivesse a intenção de comprar, vender ou alugar um imóvel. Hoje, no entanto, o mercado imobiliário exige cada vez mais conhecimentos do profissional que tenha a intenção de se firmar no setor e passam a dar conselhos aos fregueses.
Os corretores de imóveis precisam ter conhecimento sobre economia, mercado financeiro e imobiliário, ter noções de localização geográfica e tendências de valorização territorial, legislação a fim de fornecer a documentação necessária para compradores. Além disso, devem saber realizar cálculos e contas matemáticas e, principalmente, exercer a arte da oratória com base em psicologia para conseguir entender as necessidades dos clientes.
O presidente do Creci-GO, Oscar Hugo Monteiro Guimarães, diz que a sociedade naturalmente exige a qualificação dos profissionais do setor, já que esse é um mercado altamente seletivo. “Foi feito um trabalho entre os conselhos regionais e o órgão federal para qualificação dos corretores de imóveis. Junto com a criação da lei federal, também vieram as faculdades e os cursos técnicos”.
Atualmente, estão registrados em Goiás, 16 mil corretores de imóveis e 1.149 empresas imobiliárias inscritas em Goiás. O curso superior em Ciências Imobiliárias ou Gestão de Negócios Imobiliários ainda é uma opção. E mesmo que a qualificação em faculdades ainda não esteja dentro das exigências do Conselho Federal de Corretores de Imóveis (Cofeci), 48% desses profissionais registrados no Creci-GO já tem o curso superior, e até mesmo pós-graduação na área.
Os requisitos básicos para exercer a profissão de corretor de imóvel envolvem apenas formação escolar de nível médio, formação em curso Técnico em Transações Imobiliárias (TTI) e inscrição no conselho regional do Estado. O companheirismo entre os colegas de profissão é muito frequente no ramo de negócios imobiliários. Mas da mesma forma que depende de parcerias, também depende da reciclagem sobre os conhecimentos no setor para ganhar um espaço dentro da competitividade.
NOVO PERFIL
As facilidades do crédito habitacional e do Programa Minha Casa Minha Vida já garantiram o acesso ao imóvel pronto a mais de 3,3 milhões de brasileiros, e pretende contratar mais de 2 milhões de casas e apartamentos até 2014.
Em Goiás, segundo a Caixa Econômica Federal, já foram 120 mil famílias atendidas desde a criação do programa do governo, em 2009. No cenário regional, muitas incorporadoras incrementaram a produção dos imóveis econômicos e hoje já estão disponíveis ofertas para quem possui renda a partir de R$ 1,5 mil.
Apesar do cenário estimulante, tem sido significativa a parcela da população que não consegue preencher os requisitos para financiar a casa própria.
Segundo a Fundação João Pinheiro, o déficit habitacional em Goiás é de 163 mil pessoas. Esse foi um dos principais motivos pelo qual o setor imobiliário passou a desenvolver a nova vertente de atuação dos corretores.
Ricardo Teixeira, sócio proprietário da Urbs-RT, percebe que o perfil do profissional mudou em todos os segmentos, principalmente no que se refere à preocupação com o aspecto econômico do comprador de imóvel. Segundo o executivo, os corretores precisam entender as reviravoltas do mercado imobiliário para instruir os clientes e prepará-los para a compra ou venda do imóvel.
“O corretor entra na vida do cliente de uma forma em que atua como um consultor particular. Quando os clientes não têm a vida regularizada, eles buscam auxílio dos corretores de imóveis, que fornecem ajuda pessoal necessária até que o comprador consiga normalizar sua vida financeira. Uma aquisição desse nível sem dúvidas vai afetar a vida do novo morador”, ilustra Ricardo Teixeira.
CONSELHEIROS
Segundo a corretora Neila Eterna de Moraes Nascente, os cursos técnicos aperfeiçoam as habilidades dos corretores, mas não é o bastante para a exigência de mercado. Mesmo tendo o diploma do curso superior na sua área de atuação, a corretora não ficou parada e procurou se especializar fazendo pós-graduação em Direito Imobiliário.
Além disso, ela ainda “levanta a bandeira” para que todos tenham pelo menos um curso superior na área, em respeito ao comprador e à profissão, que já foi desvalorizada por exigir apenas o segundo grau completo.
“Os clientes nem sempre têm o conhecimento necessário para ir de encontro a uma negociação e cobram isso do corretor. O que eu aprendi na minha carreira é que somos nós os responsáveis por levar as informações sobre o mercado de imóveis a eles. Mas pra isso acontecer, precisamos ter conhecimento sobre diversas áreas e aplicar isso no dia a dia. O que traz valorização para qualquer área é a educação”, expõe a especialista em Direito Imobiliário.
Corretora há 15 anos, Neila iniciou sua carreira trabalhando entre uma imobiliária e outra até ser gerente de uma grande empresa do ramo. Porém, decidiu montar seu próprio escritório de corretores em parceria com outros sócios. A especialidade da NC Corretores é fornecer ao cliente um tratamento exclusivo a fim de receber o comprador em uma relação de confiança.
“Da mesma forma que existe um médico de confiança, o advogado de confiança, entre outros, também deve existir um corretor de confiança. Por isso não buscamos clientes vips, mas sim oferecemos aos nossos clientes um corretor vip, dedicado exclusivamente para o que for preciso. Hoje, o corretor de imóvel é um avaliador, um conselheiro”, conta a corretora.
RISCOS E CURSOS
O corretor de imóvel também é responsável pelos riscos nos negócios. Se fizer uma negociação imobiliária com informações erradas na transação, ele passa a responder por processo judicial. Por ser uma transação financeira de alto custo, geralmente os compradores se sentem cautelosos quando entram em contato com um corretor.
Sem o conhecimento aprofundado do ramo de atuação, o profissional não consegue se manter na corretagem. Pensando nisso, o Sindicato de Corretores de Imóveis (Sindimóveis-GO) quer oferecer cursos técnicos para a classe de trabalhadores, pois reconhece o peso imposto pelo mercado. No Sindimóveis são oferecidos os cursos de Documentação; Contratos imobiliários; Locação de imóveis e Uso adequado do solo (sobre leis ambientais e loteamento).