Ainda um tabu para muitos pais, a moradia independente para pessoas com deficiência intelectual foi tema de um seminário aberto ao público que aconteceu ontem, 13/11, das 8h30m às 17h30m, no Palácio São Clemente, em Botafogo.
Promovido pelo Instituto JNG, que desde 2010 se dedica a projetos de inclusão social para deficientes, o evento reuniu arquitetos, acadêmicos, profissionais de saúde, políticos e famílias para discutir as diretrizes e os rumos de um novo modelo de moradia independente para o Brasil. Além disso, serão compartilhadas informações e pesquisas sobre experiências bem-sucedidas em países como a Inglaterra.
Segundo Flávia Poppe, presidente do JNG, é a primeira vez que pessoas de múltiplos setores se juntam para pensar em como as cidades podem se preparar para oferecer mais independência para deficientes.
– A autonomia para pessoas com deficiência não é uma bandeira, é um conceito firme, que deve se tornar política pública. Aqui no Brasil, a gente entende que a viabilização desse tipo de habitação depende de uma ação tripartite, envolvendo o governo, os familiares e os investidores imobiliários. Também precisamos do auxílio de urbanistas para esse planejamento, uma vez que essas moradias não podem de forma alguma se transformar em espaços segmentados, afastados da comunidade; elas têm de estar inseridas nos bairros, para que todos tenham convívio social, rotina, e acesso aos serviços – pontua Flávia.
Ela explica que essas residências seriam uma espécie de república, onde os moradores teriam seus apartamentos individuais e contariam com a supervisão de “apoiadores”, profissionais que, de acordo com Flávia, são diferentes dos já conhecidos cuidadores:
– O cuidador tem um papel assistencial. Já o apoiador tem a função de promover a autonomia dos deficientes, de orientar as atividades em vez de fazê-las por eles.
Do ponto de vista da segurança, Flávia entende que algumas famílias são resistentes à ideia de ver seus filhos morando sozinhos por opção própria ou por necessidade.
– Há, muitas vezes, uma atitude superprotetora. Mas um assunto que precisa ser enfrentado é: o que acontece com o deficiente após a morte dos pais ou responsáveis? É a partir de uma convivência com outras pessoas e da liberdade para realizar tarefas sozinhos que eles vão desenvolver habilidades para se sentirem cada vez mais seguros – enfatiza.
Helena Werneck, diretora do instituto Meta Social, que criou a campanha “Ser Diferente é Normal”, é uma das mães que estarão do evento. Ela conta que sua filha Paula, de 26 anos, com Síndrome de Down, tem rotina ativa e independente.
– Ela estuda, trabalha, sai para festas, malha… E moraria com amigos se existissem residências com esse formato aqui no Rio. É importante que os pais comprem essa ideia e acreditem que seus filhos podem e precisam ter sua individualidade – enfatiza Helena.
Durante o dia, o seminário contará com painéis que tratam do Estado e das garantias dos deficientes, de políticas habitacionais para pessoas com comprometimento intelectual e depoimentos de jovens com deficiência.
Fonte: O Globo – 13/11/2014