Jornal O Hoje
De uns tempos para cá, a construção civil despertou para a importância de integrar as áreas verdes naturais nos projetos de moradia. Onde antes se derrubavam árvores para dar lugar ao concreto, agora há a preservação de exemplares frutíferos cinquentenários. “É o paisagismo funcional, que, além de decorar, preservar e permitir seu uso, é ecologicamente sustentável”, explicou o engenheiro civil Gustavo Veras.
Imagine os moradores de um prédio consumindo o fruto das árvores plantadas no espaço de convivência como se estivessem no quintal de casa. É essa a proposta de um dos empreendimentos imobiliários, em Goiânia, o Ecovillaggio Castelo Branco, que segue uma tendência mundial. No terreno onde estão sendo construídas três torres de apartamentos foram preservadas 12 mangueiras e uma serigueleira nativas. O projeto, de autoria da paisagista Marcia Simonsen, pensou a área verde e de lazer em solo original.
“Nos centros urbanos há, atualmente, poucas áreas que apresentam essa condição. Esta foi realmente uma situação diferente e soubemos aproveitar”, destaca Gustavo. O projeto prevê ainda o plantio de pés de limão, laranja, romã, acerola e outros, além de uma horta, onde está previsto o plantio de folhas verdes e condimentos, que o morador poderá consumir. Também será construída uma casa na árvore, quiosques, piscinas e instalados redários, entre outros. “Não é só contemplar, mas usar”, reforça ele. O engenheiro explica ainda que o conceito que cria ambientes inspirados em ecossistemas naturais cria uma barreira visual e sonora favoráveis aos moradores.
“Houve aqui também a preocupação com a economia”, completa Gustavo Veras. Os moradores terão plantas de mais fácil manutenção, pois são mais resistentes ao clima, mais adaptadas ao solo, exigem um manejo menor e, por isso, geram menos custos com implantação e insumos. Outro benefício da obra é o reaproveitamento da água para lavagem das áreas comuns e ainda num lavajato particular instalado no residencial. Além disso, todo o espaço ocupará praticamente a metade do terreno do empreendimento, contribuindo assim pela manutenção da permeabilidade do solo.
Ornamentação interna
Em espaços mais reduzidos, como as sacadas dos apartamentos, também é possível usufruir do paisagismo funcional. Algumas espécies de árvores frutíferas se adaptam facilmente em vasos e podem ser mantidas frondosas e belas dessa forma. “O ideal é utilizar frutíferas cujo desenvolvimento em vaso seja lento, e o porte médio seja em torno de 1,5m. São indicadas espécies como jabuticabeira, citros em geral (tangerina, laranja, limão e laranjinha kumquat), pitangueira, romã, acerola, e outros”, explica o arquiteto paisagista João Paulo Florentino.
Ervas e temperos também são especialmente indicados para o cultivo em sacadas, desde que sejam observadas as condições básicas para desenvolvimento e sobrevivência das plantas. João Paulo cita, por exemplo, insolação, terra ou substrato bastante rico em nutrientes e irrigação adequada. “Cada tipo possui necessidades particulares, por isso é preciso tomar muito cuidado para não misturar em um mesmo vaso plantas com características botânicas diferentes. Por exemplo, se a pessoa planta alecrim e manjericão-roxo em um mesmo vaso, fatalmente o alecrim irá morrer por excesso de água, ou o manjericão pela insuficiência de irrigação”, aconselha o arquiteto paisagista.
O ideal é sempre combinar plantas com características semelhantes, ou utilizar um recipiente – vaso ou floreira – para cada espécie. João Paulo explica que o vaso deve ser sempre dimensionado para o tamanho que se pretende que a planta atinja, e do material mais apropriado para aquela espécie. No caso de sacadas de apartamento, os mais indicados são feitos de plástico, já que este material tem a capacidade de segurar melhor a umidade na terra. “Tendo o vaso ideal, a cada ano é necessária uma poda de galho e folhas, para tutorar a planta, e para garantir flores e frutos”, diz.
A adubação deve ser regular, no mínimo a cada dois meses, e intensificada no período de frutificação. Em média, a cada três a cinco anos, faz-se também o que é conhecido como ‘poda de raiz’, que consiste em retirar a planta do vaso para desbastar a raiz, trocar a terra e adubar o solo. De acordo com o arquiteto paisagista a planta, em geral, dá sinais disso quando a raiz começa a aparecer na superfície, ou sai pelo buraco do fundo, ou ainda quando apresenta enfraquecimento e falta de nutrientes.
O processo de frutificação e floração da planta passa, muitas vezes, pelo seu desenvolvimento natural de porte, raiz e folhas. “Ou seja, nunca compre uma muda cujo torrão já ocupe todo o vaso/floreira, a planta precisa de espaço para se desenvolver. Ao escolher a espécie que irá levar para casa, observe se ela apresenta folhas e raízes saudáveis, livre de pragas”, alerta. Todos esses procedimentos garantem que a planta possa permanecer em um vaso, ou uma floreira, por muitos anos. Garante também a colheita dos pequenos, mas saborosos frutos. “As frutas cultivadas em casa, em sua maioria, apresentam um método de cultivo orgânico, livre de qualquer agrotóxico. Elas devem, sim, ser aproveitadas e consumidas normalmente”, conclui.