Com o aumento da população idosa no Brasil, o mercado imobiliário tem olhado com cada vez mais atenção para esse público. Entre as novidades com foco no público mais velho estão condomínios que incluem ambulatórios médicos internos, espaços adaptados e até robôs que ajudam na rotina dos moradores.
Em um residencial sênior, você usufrui de serviços incluídos no valor do condomínio e pode agregar outros, pagos à parte, à medida em que envelhece. É o conceito aging in place, consolidado nos Estados Unidos, mas que ganha força agora por aqui: moradias para quem tem mais de 60 anos com infraestrutura que acompanha as demandas que surgem com a idade.
O condomínio Vintage Senior Residence, projeto da Cyrela em Porto Alegre, oferece enfermeiro 24 horas a partir de uma parceria com o Grupo ATS, especializado em gestão da saúde. Além disso, os botões antipânico dos 120 apartamentos (um no quarto e outro no banheiro) acionam a recepção e o ambulatório.
Casas com idosos devem valorizar itens de segurança; hortas e pomares também são diferenciais importantes.
Em Curitiba, a construtora Laguna promete também usar a tecnologia como aliada. O empreendimento Bioos tem duas torres: uma residencial, com 108 apartamentos, e outra que é um centro médico, com um hospital-dia para procedimentos de baixa complexidade, que vai atender também os não residentes no condomínio. Com entrega prevista para 2025, o empreendimento tem apartamentos entre R$ 550 mil e R$ 1,1 milhão. O empreendimento vai oferecer aos moradores um robô de telepresença. Além de assistências virtuais, como acender e apagar a luz e sintonizar o programa de TV favorito, o robô se movimenta pela casa e o idoso não precisa levantar toda hora.
Saúde, segurança e acessibilidade orientam projetos para o público acima de 60 anos
Dentro do apartamento:
- Botões antipânico em dois ambientes
- Portas com largura de 1 metro ou mais para cadeira de rodas
- Maçanetas das portas em forma reta ou fechaduras digitais
- Tomadas mais altas para minimizar o esforço de abaixar e levantar para alcançá-las
Mobiliário:
- Sem cantos vivos e cadeiras com braços
- Pisos antiderrapante, sem desníveis, o que evita tropeços e quedas
Na área externa:
- Posto de saúde com enfermeiro 24 horas
- Rampas de acesso para substituir escadas
- Vidros sinalizados com barras de alumínio para evitar acidentes
Hortas e árvores:
- Frutíferas
- Escadas de piscinas construídas em alvenaria e com corrimão
- Lei de 2020 obriga imóveis a ter mais acessibilidade
Em vigor desde 2020, a Lei de Acessibilidade promove, indiretamente, a inclusão dos idosos no mercado imobiliário. Embora fixe normas de acessibilidade das pessoas com deficiência, ela prevê, por exemplo, a necessidade de corredores e elevadores mais largos para macas e cadeiras de rodas.
“A norma está sendo implementada, mas alguns empreendimentos imobiliários anunciam isso como diferencial. Isso é básico, elementar”, afirma a arquiteta e urbanista Lilian Avivia Lubochinski, que assina projetos de condomínios para idosos no Brasil e no exterior. “Velhice não é doença, é um período da vida”, continua.
O engenheiro Norton Mello, autor do livro Senior living – conceito, mercado global e empreendimentos de sucesso, afirma que o mercado ainda está no início no Brasil. “Há um problema na formação técnica de arquitetos e engenheiros. Não há disciplinas formais sobre projetos de saúde e bem-estar nos cursos. Só na pós”, avalia.
Claudio Bernardes, vice-presidente do Sindicato das Empresas de Compra, Venda e Administração de Imóveis (Secovi) em São Paulo, vê sinais de mudança. “Verificamos aumento do público, o que permitirá escala suficiente para novos empreendimentos.”
Matéria publicada no Estadão