Estudo mostra que a compra de um imóvel ficou mais difícil nos últimos anos porque se distanciou da evolução da renda média dos brasileiros
O preço dos imóveis residenciais subiu tanto, que nem o crescimento da renda dos brasileiros e a melhora nas taxas e nos prazos do financiamento nos últimos anos foram suficientes para evitar a deterioração do poder de compra dos consumidores. Na prática, comprar um imóvel ficou mais difícil, como mostra pesquisa da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli/USP) elaborada a pedido do ‘Broadcast’, serviço em tempo real da ‘Agência Estado’.
O estudo compara a evolução do preço das moradias nas maiores capitais brasileiras com a renda da população, as taxas de juros e os prazos do financiamento imobiliário entre os anos de 2006, quando teve início o boom do setor, e 2013. A conclusão é que de houve uma perda em torno de 21% no poder de compra, o que tornou o imóvel caro para boa parte dos consumidores e exigiu revisão da estratégia de venda das incorporadoras (mais informações nesta página). Em 2013, os preços começaram a desacelerar, com altas menores que a inflação. Em 2014, a alta dos imóveis perde para a inflação.
Em uma simulação, a pesquisa observa as condições para compra de uma unidade de 82 metros quadrados avaliada em R$ 200 mil em 2006, valores médios de referência da época. A unidade subiu 229%, chegando a R$ 658 mil em 2013. Uma família interessada em financiar a compra em 2006 precisava apresentar renda mensal de pelo menos R$ 7,7 mil para ter o empréstimo bancário aprovado. Já em 2013, após a disparada nos preços, a renda exigida pulou para R$ 17,6 mil.
Renda. O problema é que a renda da população não acompanhou a subida dos preços. A família que ganhava R$ 7,7 mil por mês em 2006 passou, em média, para R$ 13,9 mil no fim de 2013. Com esse dinheiro, comprar o imóvel de 82 m² ficou inviável. No máximo, caberia no bolso outro de 64,6 m², uma queda de 21,2% no poder de compra.
A perda no poder de consumo ocorreu mesmo com a melhora nas condições do financiamento. A taxa média de juros do crédito imobiliário caiu de 10,3% ao ano em 2006 para 7,88% no fim de 2013. No período, o prazo de quitação dos empréstimos passou, na média, de 200 meses (16,6 anos) para 358 meses (29,8 anos).
“Essa perda obriga o comprador do imóvel a poupar mais para dar a entrada na compra. Então o negócio acaba sendo fechado bem mais tarde”, afirmou o coordenador do Núcleo de Mercado Imobiliário da Poli/USP e coautor da pesquisa, João da Rocha Lima. Na simulação, a entrada de 30% do valor do imóvel em 2006 era igual a R$ 60 mil, ou o equivalente a 7,7 meses de renda da família. Já em 2013, a entrada passou a ser de R$ 197,4 mil, ou o equivalente a 11,2 meses de renda da família. “Comprar um imóvel ficou mais difícil porque é preciso mais tempo de poupança”, disse Lima.
Para o vice-coordenador do Núcleo de Mercado Imobiliário da Poli e coautor do estudo, Claudio Alencar, houve um desajuste no mercado. “Com crescimento da renda e da oferta de crédito, as pessoas deveriam, em tese, ter ganhado poder de compra, mas elas perderam”, afirmou. “Isso indica que os preços cresceram de modo acelerado, criando um desequilíbrio.”