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Presidente da Caixa Econômica Federal, que detém participação de 36% no mercado de poupança no Brasil, Jorge Hereda elogiou nesta sexta-feira as mudanças promovidas pelo governo no rendimento da caderneta, que classificou como “necessárias” e “fáceis para a população absorver”.
Em entrevista à Folha antes da abertura do 8º Feirão da Casa Própria, no Rio, ele disse não temer uma migração de recursos da poupança para outras opções de investimento, o que poderia prejudicar a oferta de crédito habitacional. Para ele, as mudanças anunciadas ontem permitirão, no médio prazo, uma expansão do financiamento da casa própria.
Hereda também disse que os bancos privados “estão demorando a reagir” à queda dos juros, o que é “ótimo” para a Caixa.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista.
Como a Caixa recebeu a notícia da mudança no rendimento da poupança?
Nós recebemos essa notícia com muita tranquilidade. Foi a melhor escolha. Era necessário fazer isso, as aplicações como um todo não podem ter diferenças tão gritantes como poderiam ter se a Selic [taxa básica de juros] baixasse e a poupança continuasse com a regra anterior. Portanto foi um ajuste importante, inclusive para que a queda de juros [ao consumidor] continue. Porque você não pode baixar os juros para quem você empresta se na captação continua pagando juros maiores, juros de um outro tempo. E as regras são muito simples e, portanto, muito fáceis para a população absorver.
Há risco de que ocorra uma migração para outras opções de investimento dos recursos que antes iriam para a poupança?
As pessoas que têm aversão ao risco têm na poupança um porto seguro. Eu acho que não vai ter nenhuma turbulência significativa, até porque a migração da poupança para outros fundos não aconteceu nem no tempo em que a relação entre os juros da poupança e os rendimentos recebidos nos fundos era muito maior do que é hoje. Acho que não vai haver essa migração.
De qualquer maneira, a Caixa pretende criar novas formas de captação de recursos para o crédito habitacional, como os fundos de investimento imobiliário?
A Caixa já trabalha com fundos imobiliários, com securitização dos créditos, e tem aumentado muito sua captação de poupança. E tem um dado novo muito importante para a questão dos recursos para a habitação, que são os juros baixando. Quando a Selic estiver em alguma coisa perto de 8% ou 7,5% [ao ano], você vai poder aplicar recursos da tesouraria no financiamento, ou seja, você vai ampliar a alternativa de funding [fonte de recursos] para a habitação. Nesse momento nós não vamos mais ter limitação para o crédito imobiliário, nós vamos poder utilizar recursos de tesouraria. Nós e qualquer outro banco.
O que o senhor tem achado da movimentação dos bancos privados no sentido de reduzir os juros? Estão demorando a reagir?
Eu acho que eles estão demorando a reagir e para nós é ótimo. Quanto mais tempo eles passarem pensando no que vão fazer, nós vamos continuar na nossa estratégia de ganhar clientes e ampliar a nossa base. A Caixa está enxergando uma oportunidade grande nesse momento e vamos continuar com essa estratégia.
Quais foram os impactos da redução dos juros na ampliação da carteira do banco?
Temos aumentado bastante a nossa captação. Temos aumentado em mais de 20% a nossa abertura de contas por dia. E tivemos um aumento de crédito nos 15 primeiros dias dessa nossa nova fase de mais de 21% [em relação ao mesmo período do mês anterior]. Estamos muito satisfeitos.